Programador é Programador, CTO é CTO
30 de setembro de 2024O mercado está vivendo uma forte corrida para a digitalização das empresas, com o objetivo de oferecer mais serviços tecnológicos e promover experiências digitais que fortaleçam o relacionamento com os clientes. Essa transição visa também um maior resultado financeiro por meio de transações de negócios em canais digitais.
A implementação dessas novas tecnologias requer um conhecimento profundo em desenvolvimento de software, cloud computing, segurança, DevOps e áreas correlatas. Mesmo em tempos de inteligência artificial, como a GenAI, há uma escassez de profissionais qualificados para atender à demanda de modernização de software, tanto nas empresas tradicionais quanto nas Digital Natives, que competem pelos mesmos talentos para desenvolver suas plataformas digitais.
Essa corrida por profissionais qualificados levou muitas empresas a contratarem pessoas não adequadamente preparadas, promovendo o desenvolvedor (a) a Chief Technology Officer (CTO) com base em habilidades superficiais. Ignoram, assim, a profundidade técnica, a liderança e a visão estratégica exigidas para a posição.
A demanda por inovação gerou oportunidades profissionais, mas também promoveu um posicionamento equivocado ao confundir o papel de desenvolvedor (a) de software com o de CTO, apenas para atrair talentos a qualquer custo.
Definir claramente os papéis dentro de uma empresa é fundamental, pois o conflito de responsabilidades entre um desenvolvedor e um CTO prejudica a eficiência operacional e impede o crescimento estratégico da empresa, resultando em decisões desastrosas e danos para o negócio e para os profissionais envolvidos, que se veem iludidos por um avanço imaginário na carreira.
Um desenvolvedor competente foca na implementação de funcionalidades de negócio no código, priorizando tarefas técnicas diárias de manutenção e testabilidade para garantir a entrega de sprints. Em contraste, um CTO deve se concentrar na estratégia, assumindo a responsabilidade pela visão tecnológica da empresa, alinhando-se às áreas de negócio, liderando as equipes envolvidas em projetos e tomando decisões que moldam o futuro da organização.
O desafio é ainda maior quando consideramos que um programador talentoso, que já enfrenta dificuldades para alcançar um nível sênior ou se tornar arquiteto de software, pode ser colocado em uma posição inadequada de CTO. Sem as habilidades interpessoais necessárias, isso frequentemente resulta em problemas comuns, como decisões mal planejadas, impulsivas ou baseadas em novas tecnologias sem o devido planejamento, o que pode comprometer a capacidade de evolução da empresa e o relacionamento com a equipe.
Após analisar projetos complexos de software nos últimos 20 anos, notei que, nos últimos cinco, a corrida pela digitalização multiplicou exponencialmente os problemas devido à falta de liderança qualificada.
É comum encontrar cenários onde mesmo utilizando as tecnologias mais modernas, novos legados surgem, dificultando manutenção e evolução, aumentando custos computacionais e, o mais alarmante, exigindo mais pessoas para sustentar sistemas que deveriam ser mais eficientes.
O fracasso de projetos críticos não é apenas uma questão técnica, mas um reflexo da falta de experiência dos CTOs, muitos dos quais não tiveram a preparação necessária.
Os compromissos de curto prazo resultam em decisões tecnológicas equivocadas e ineficientes, causando desconexão nas equipes, desmotivação e até burnout. Além disso, as áreas de negócio enfrentam dificuldades em manter um fluxo contínuo de inovação, resultando em desalinhamento estratégico e conflitos constantes.
Um CTO deve ter uma visão holística da governança tecnológica, considerando regulamentações, compliance e segurança, além de alinhar-se com outros executivos e investidores. É fundamental que as empresas compreendam que a escolha de um CTO não pode se basear apenas em habilidades de programação; ele deve atuar como estrategista, líder e visionário, respaldado por uma experiência sólida.
As contratações devem ser baseadas em habilidades e responsabilidades específicas: um programador deve focar no desenvolvimento técnico, enquanto o CTO deve liderar a estratégia tecnológica. As evoluções de carreira precisam ser planejadas com treinamentos adequados em liderança, tecnologia, governança, gestão e estratégia, permitindo um crescimento sólido por meio de experiências práticas e feedback.
As empresas que promovem profissionais inexperientes assumem, por sua vez, a responsabilidade pelos riscos operacionais, pagando um alto preço por decisões não planejadas, que acarretam prejuízos incalculáveis à organização, à equipe e aos investidores.
Alguns itens importantes para reflexão:
Crescimento da Digitalização: A digitalização das empresas é uma prioridade para oferecer melhores serviços e experiências aos clientes.
Escassez de Profissionais Qualificados: A demanda por talentos em tecnologia supera a oferta, resultando em contratações inadequadas.
Confusão de Papéis: Misturar as funções de desenvolvedor e CTO pode levar a decisões desastrosas e impactar negativamente a eficiência organizacional.
Impacto da Inexperiência: Profissionais sem a devida experiência podem tomar decisões mal informadas que comprometem a inovação.
Importância da Governança Tecnológica: O CTO deve ter uma visão abrangente, considerando regulamentações, compliance e alinhamento estratégico.
Necessidade de Formação Contínua: Investir em treinamento e desenvolvimento profissional é crucial para preparar líderes eficazes.
Cultura Organizacional: A cultura da empresa influencia a motivação da equipe e o fluxo de inovação.
Riscos de Promoções Prematuras: Promover profissionais inexperientes para cargos de liderança pode acarretar altos custos e prejuízos operacionais.
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Até a próxima !!!
Ramon Durães
VP Engineering